As contribuições das teorias econômicas e sociais para as estratégias corporativas
- Danillo Nogueira
- 29 de jan. de 2020
- 5 min de leitura

O modelo de gestão japonês trouxe algumas contribuições ao campo da análise estratégica nas relações interorganizacionais. Uma dessa contribuição, foi a mudança corrente nas formas com que as organizações estavam se portando no mercado ao mencionar o esforço das empresas Japonesas em contar extensivamente com o formato de rede em suas organizações.
No Japão, surgiu um grande interesse por parte dos pesquisadores e gestores em tentar entender o quanto essa confiança no modelo de organizações em rede seria determinante para garantir sucesso competitivo.
Análises sobre a indústria têxtil japonesa identificaram atuações integradas entre os produtores artesanais por vários anos. A partir dos anos 1980, houve uma mudança significativa no cenário. As grandes fábricas de tecelagem começaram a enfrentar dificuldades e eventualmente a fecharem, obrigando as empresas integradas (fornecedores e distribuidoras) a retrocederem para as suas bases originais de confecção. Mesmo assim, as operações de menor porte sobreviveram em grande número. O fator essencial para isto estava vinculado à forma como estes negócios interagiam.
Uma crítica ao modelo ocidental economicista foi levantada a respeito da forma como o modelo dominante ocidental parece estar fora de coordenação no mercado. Principalmente quando se refere à coordenação por meio de hierarquia de uma rede verticalmente integrada, implicado na teoria dos custo de transação, a qual apontava para um aumento de custos a partir de uma imperfeição do mercado com pequeno número de compradores e vendedores, tornando mais difícil a barganha pela chamada “informação impactante”.
De fato, essa configuração aumenta o poder de barganha das partes que, quando não há economia de escala significativa para ser ganho por sua independência mútua, uma parte (geralmente mais forte do que a outra) adquire a outra empresa para colocar um fim ao seu “oportunismo” (sendo uma rápida resposta não somente aos seus preços, mas também a sua informação sobre as fraquezas do concorrente).
Uma outra crítica às generalizações capitalistas que não se aplicam ao modelo japonês: os custos de transação de grandes empresas japonesas podem ser menores do que comparados a qualquer outro lugar, pois o chamado “oportunismo” pode ser menos danoso no Japão, devido ao encorajamento explícito e a prevalência da economia japonesa, que se pode chamar de relação comercial moralizada por uma boa venturança mútua.
De forma ampla, foi possível observar o quanto algumas redes organizacionais podem ser caracterizadas por um rigor ético e uma orientação à criação de valor por parte dos envolvidos. Em um caso específico, o relacionamento de fornecedores de longo prazo com algumas empresas japonesas apontou para uma forma de “Boa Venturança” relacional. Essa boa venturança suscitava diálogo, a despeito ainda que houvesse uma quebra de contrato e, consequentemente, busca por novos fornecedores. As relações entre as organizações possuíam predisposição ao espirito de boa venturança (goodwill spirit), o que favorecia as resoluções das disputas entre as partes e um alto nível de confiança entre as partes.
Nesse relacionamento, os compradores negociavam com os fornecedores, de forma a identificar as suas deficiências mais do que simplesmente buscar outros fornecedores. O que para ambos era sinal benéfico de uma orientação específica de investimento relacional sem necessidade de garantias contratuais responsáveis por salvaguardas.
Contrariamente a algumas das teorias ocidentais mais modernas sobre os relacionamentos interorganizacionais, tal como a teoria dos Custos de Transação, alguns fatores culturais dos japoneses mostram a predominância incomum de um relacionamento mais próximo entre organizações, o que proporciona mais debates e discussões acerca das influências ou não dos fatores culturais e relacionais sobre as ações econômicas dos indivíduos.
Outro ponto contrário às teorias ocidentais esteve em estudos que puderam observar uma norma de reciprocidade como sendo princípio para as formas de organização em redes. Similar à boa venturança, a reciprocidade estaria presente em uma rede de organizações como senso de dever ou compromisso com a outra parte envolvida, a despeito de possível desejo de tomar vantagem de qualquer confiança que venha a ser depositada.
Tendo tais exemplos estabelecidos, foi possível observar que esses são alguns fatores opositores à teoria econômica clássica, a qual se pautava em razões lógicas com fins de ganho ou de vantagem competitiva, a despeito de possíveis vieses sociais, culturais ou relacionais.
Um exemplo visceral para a teoria clássica foi demonstrado por Adam Smith, em seu livro Riqueza das Nações, sobre a orientação pragmática do mercado, na perspectiva economicista:

“Não é da benevolência do açougueiro, do cervejeiro ou do padeiro que eu espero que saia o meu jantar, mas sim da consideração que eles têm pelos próprios interesses. Apelamos não à humanidade, mas ao amor-próprio, e nunca falamos de nossas necessidades, mas das vantagens que eles podem obter.”
Por meio dessa visão econômica clássica, as relações eram tidas como sendo acerca do autointeresse dos indivíduos a fim de se obter vantagem sobre o outro e ter, com isso, um ganho particular. Essa visão de que a motivação dos indivíduos pelo auto interesse não era uma “paixão” incontrolável, mas sim uma forma civilizada e gentil, foi confrontada e exposta a partir da elaboração da perspectiva da existência do indivíduo supersocializado ou subsocializado.
O debate quanto à natureza das ações dos indivíduos se pautava a partir de uma visão critica onde se acreditava que os indivíduos de uma mesma relação comercial raramente se encontravam pessoalmente, para diversão ou distração, pois a conversa terminaria em conspiração contra o público, ou em alguma tentativa de aumento de preços.
Outros pesquisadores, acreditavam que os indivíduos agiam de certa forma porque fazia parte do costume, ou era uma obrigação, ou era a “coisa certa a ser feita”, ou certa e própria, ou justa. No entanto, as teorias do comportamento dos indivíduos possuem termos em comum, como o fato de suas decisões e ações serem levadas por meios dos seus atores, seja com base em seu próprio autointeresse ou por padrões sociais ou relações sociais, tendo efeito direto no seu comportamento.

Porém, a partir de uma ótica Confucionista, a “benevolência” de Adam Smith é substituída por uma “boa venturança”. Essa boa venturança é considerada uma relação entre iguais, de forma a formar um status neutro, mas em um princípio de mutualidade entre os indivíduos, ao contrário da visão clássica que fomenta a relação de desiguais, entre um superior para um inferior.
Portanto, é possível observar que os fatores sociais tiveram influência no pensamento econômico, de forma a moldar suas bases teóricas. Assim, a imersão social dos indivíduos (Embeddedness), como das organizações, se torna um dos principais focos para o estudo dos efeitos nos comportamentos de aquisições corporativas.
Fonte: Nogueira, Danillo P. Embeddedness estrutural e o status como deferência simbólica das empresas listadas na BM&F Bovespa: o efeito no comportamento de aquisições corporativas / Danillo P. Nogueira – 2015 – Dissertação (mestrado) – Pontifícia Universidade Católica do Paraná.